Evento reuniu mais de 17 mil pessoas em uma programação que contou com palestras e mostra de projetos envolvendo ciência e tecnologia
Como conectar a educação aos desafios do século XXI. Esse foi o tema central da quarta edição da Mostra Sesi Com@Ciência, promovida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi-RS) nos dias 5 e 6 de outubro. O evento reuniu mais de 17 mil pessoas, entre o público presencial e online, que conferiram mais de 170 projetos desenvolvidos pelos alunos das Escolas do Sesi-RS, no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), em Porto Alegre. A programação contou com 16 palestras de especialistas de renome internacional, como o jornalista e escritor Mia Couto e o filósofo e educador colombiano Bernardo Toro. O evento trouxe, ainda, oficinas para estudantes e professores, com opções de grafite, minecraft educacional, música e tecnologia, gamificação, storytelling, navegação e astronomia, entre outras.
Ao abrir a Mostra, o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry, destacou a emoção de ver tantos jovens reunidos para falar sobre ciência e educação. “A qualidade dos projetos desenvolvidos pelos estudantes nos traz esperança. Ao olharmos a trajetória das nações desenvolvidas, constatamos que todas deram prioridade à educação e à industrialização. ‘Indústria Forte e Educação de Qualidade’ são temas inseparáveis e pilares para o crescimento econômico e social”, enfatizou. O superintendente do Sesi-RS, Juliano Colombo, lembrou que a formação de crianças e jovens, no Brasil, segue um modelo do século XIX, que está cada dia mais distante da realidade da sociedade e do mundo do trabalho. “Os resultados ao final do Ensino Médio deixam clara a necessidade de uma grande mudança. Estamos aqui para fazer e estar ao lado de outras entidades, empresas e órgãos públicos que queiram fazer”, frisou.
Um dos destaques da programação foi o painel voltado a educadores, empresários e gestores públicos sobre o efeito escola e o desenvolvimento tecnológico a partir das relações com o mundo do trabalho. Participaram do debate o pesquisador em tecnologias para a educação e professor da Universidade de Columbia, Paulo Blikstein, o professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper e professor associado da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, Naércio Menezes Filho, a secretária estadual de Educação do RS, Raquel Teixeira, e o diretor do grupo Tecpon, Lisandro Santos.
Ainda no primeiro dia, os participantes também puderam conferir a palestra do filósofo Bernardo Toro, que ocorreu de forma on-line, e foi acompanhada por uma atenta plateia no Teatro do Sesi. O intelectual colombiano defendeu que a sociedade faça uma transição do paradigma de acúmulo, poder e sucesso para um novo paradigma: o do cuidado. “A forma como muitas escolas avaliam o aluno mais inteligente, mais importante, mais legal, está construída sobre o paradigma de acúmulo, poder e sucesso. Se queremos sobreviver como espécie humana, temos de abandonar isso e migrar para o paradigma do cuidado”, salientou Toro.
O evento contou, também, com palestras do professor Christian Dunker, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; da CEO da Spotone Global Solutions, Mariéme Jamme, que trabalha com discursos inspiradores sobre a educação de meninas por meio do STEAMD (sigla que engloba ciência, tecnologia, engenharia, artes, matemática e design) e empoderamento de jovens que vivem em comunidades vulneráveis; da fundadora da escola de pensamento digital Mastertech Camila Achutti, que lidera iniciativa para a inclusão de mulheres na tecnologia; além da velejadora e escritora Heloisa Schurmann e do seu filho, o cineasta David Schurmann, que, em 2017, foi indicado para representar o Brasil no Oscar com o filme “Pequeno Segredo”, inspirado em livro com o mesmo nome escrito pela mãe.
Soluções inovadoras apresentadas pelos alunos
Durante o evento foram apresentados mais de 170 projetos desenvolvidos por estudantes das escolas de Ensino Médio do Sesi-RS, das turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do programa de Contraturno. Os trabalhos dos alunos envolvem desde o desenvolvimento de soluções inovadoras para a área da saúde, passando pela construção civil, até a criação de produtos sustentáveis.
A gerente de Educação do Sesi-RS, Sônia Bier, destacou o caráter inovador dos projetos. “Os alunos estavam empolgados e os convidados entenderam o espírito da mostra, que é trazer o protagonismo dos estudantes e mostrar uma forma diferente que o Sesi vem fazendo educação, colocando esses jovens a trabalharem com tecnologia de forma criativa e inovadora, abrindo espaço para eles no processo de empreendedorismo”, explicou.
É o caso das alunas Juliane Silva, Rayssa Silva, Maria Eduarda Domingues e Bruna Rosa, do segundo ano do Ensino Médio da Escola do Sesi-RS Eraldo Giacobbe, de Pelotas. Elas desenvolveram um plástico filme produzido da farinha do caroço de abacate. A ideia surgiu de outro projeto sobre resíduos e meio ambiente. “O caroço do abacate tem amido, que ajuda na composição dos polímeros”, justifica Rayssa. Segundo ela, o tempo de decomposição do material é de cerca de um mês.
Também do abacate veio o creme para a pele que está em desenvolvimento na Escola do Sesi-RS de Sapucaia do Sul. Nicole Zanatta e Bruna Almansa, do terceiro ano do Ensino Médio, resolveram combater a dermatite com um produto mais acessível e menos danoso ao meio ambiente e à própria pele. Chegaram a um bom resultado combinando própolis, abacate, babosa e óleo de coco babaçu. Agora, dedicam-se à pesquisa do armazenamento do produto sem precisar de conservantes.
A tecnologia, de forma geral, e a robótica, em específico, estão bastante presentes no cotidiano dos alunos do Sesi. As oficinas incluem experiência com realidade virtual, dispositivos de interação e competições de robôs.
Um grupo de oito alunos entre 9 e 11 anos criou uma garra automática para auxiliar e dar mais autonomia a idosos e pessoas com deficiência ou qualquer limitação nos movimentos. Eles frequentam o Contraturno na Escola do Sesi-RS de Farroupilha. O projeto começou em julho e já conta com dois protótipos: um fixo e outro que se desloca. “Uma das placas foi mais fácil de programar porque já era utilizada, mas a segunda chegou há apenas 15 dias e é totalmente nova para eles”, conta a orientadora, Jéssica Vieira.